Blog Brigitte Calegari | BELEZA EM TRANSFORMAÇÃO
26.06.17
BELEZA EM TRANSFORMAÇÃO
Você já deve ter passado por isso: saiu da banca com uma revista só porque desejou ser como a modelo da capa: corpo magro e de pernas infinitas, maquiagem impecável, cabelo loiro e modelado com ondas estilo Gisele. Sim, os padrões de beleza existem e estão aí já há muito tempo, julgando a gente e nos separando entre bonito ou feio, aceitável ou ridículo, bom ou mau.
Desde a Grécia Antiga o homem tenta determinar o que é o belo. Pitágoras, por exemplo, relacionou a beleza com a matemática argumentando que formas que obedecessem proporções áureas seriam mais harmoniosas e belas. Porém, por mais que equilíbrio estético seja agradável aos olhos, o conceito do que é bonito vai mudando com o tempo. Na Idade Média, o corpo ideal era mais cheinho, como se vê nas pinturas renascentistas, por ser sinal de fartura e riqueza em uma época em que a produção agrária era menos desenvolvida e a escassez de alimentos, uma realidade. Já em tempos atuais o corpo atlético e magro é a referência perseguida e, às vezes, até de formas não saudáveis como com dietas malucas e intervenções cirúrgicas arriscadas. Isso também pode ser aplicado à maquiagem. Na década de 20, a imagem feminina que agradava era de uma mulher frágil e lânguida e, por isso, as sobrancelhas eram bem finas e arqueadas, demonstrando uma grande delicadeza. Ou seja, bem diferente das sobrancelhas atuais que são cheias, preenchidas e que marcam a presença feminina forte, sexy e independente. O problema é que mesmo que mudem os padrões, eles ainda são padrões e não deixam de pregar um modelo a ser seguido e, como consequência, exclui todas as pessoas que não estão dentro dele. Mas a boa notícia é que a internet, deu voz a muitas minorias, o que tem levado ao maior questionamento e quebra de muitos paradigmas.
Como maquiadora, sou adepta da ideia de embelezar, e não transformar. Embelezar entendo como sendo realçar o que temos de melhor, as características que mais gostamos em nosso próprio rosto, valorizando com harmonia o que temos de especial e único. Acredito que não exista o bonito ou o feio. A beleza não deve ser padronizada. Já transformar é quando o maquiador padroniza a cliente ou modelo e faz uma make que a coloca dentro de uma forma pré-concebida e sem espaço para a individualidade. Já vi casos de quem ficou até irreconhecível depois da maquiagem.
Existem técnicas que nos ajudam a harmonizar o rosto, como por exemplo, o contorno. Ele é capaz de dar a impressão de afinar rosto, nariz, maxilar, pescoço, etc. No entanto, se você exagera, pode ficar muito diferente ou então, se tornar escrava da make por não querer se ver mais sem aquele truque “emagrecedor”. Tenho percebido muitas mulheres com dificuldade de autoaceitação e que usam a maquiagem para alcançarem uma beleza x, específica e padronizada. Assim, acho melhor quando se foca naquilo que se gosta, realçando o que queremos valorizar. Fazer isso nos empodera e nos ajuda a amar ainda mais o que temos naturalmente. Mas como sempre digo que na maquiagem não há certo ou errado, tudo depende do seu conceito e da sua identificação. Cada um deve seguir o que te deixa mais confortável e feliz, sem regras.
Apesar de não ser fã de maquiagem transformadora no rosto, existem transformações que a make pode fazer que são, sim, muito legais. Ela é capaz de mudar para melhor vidas de maneira individual, como quando se torna uma profissão que vai gerar renda para pessoas conquistarem sua autonomia e independência. É muito bom quando vejo alunas e alunos meus perseguirem a carreira em busca de um sonho. A make acaba sendo a porta para infinitas possibilidades. Ser maquiador profissional é um ofício que, além de dinheiro, pode trazer muita satisfação pessoal.
Outras transformações às quais a maquiagem e a beleza, de forma geral, estão ligadas são mudanças sociais. Às vezes ela pode romper padrões ou refletir regras que já foram quebradas.
Fico contente quando vejo que há alguns anos as sardinhas na pele eram vistas como um defeito a ser escondido e hoje, ela já é celebrada. Muitos profissionais usam coberturas mais suaves de base ou corretivo para não apagá-las e respeitar o tipo de pele da cliente. Chegamos a ver vários tutoriais, inclusive, ensinando a pintar sardas no rosto. Outro exemplo é da modelo canadense Winnie Harlow, diagnosticada com vitiligo quando ainda era criança. Ela tem participado de muitas campanhas publicitárias, capas de revistas e editoriais , e representa uma nova geração de modelos que vieram para aumentar a diversidade no mundo fashion. Além de Winnie, nomes como Ashley Graham, Hari Nef, Andrja Pejic, Lauren Hutton também fogem dos esteriótipos de beleza e tem transformado a forma como vemos o que é belo!
O que é beleza para você?
Beijo,
Brigitte
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